Sobre cerveja sem álcool, café descafeinado e Virgens Suicidas.
No auge da tpm é meio difícil lembrar qual foi a última vez que você se sentiu viva
Mas provavelmente eu tava embriagada em algum bar planejando passar um mês em Paris. Essa segunda parte tá parecendo mais fácil de realizar do que a primeira. Há um tempo atrás caí na embriaguez justa e destinada aos bêbados e poetas, começava com uma garrafa de vinho, terminava a noite em lugares que nem eu pensava conhecer e com certeza era uma pessoa muito mais simpática. Eu poderia pedir desculpas se você recebeu uma mensagem minha nesse estado, mas vou me limitar a dizer "de nada".
Eu não sei que tipo de Engov Baudelaire tomava, mas aos poucos fui descobrindo que, bem, não dá pra viver assim. As pessoas, claro, tentam te avisar que você está um pouco inchada e desnorteada, mas a constatação vem quando você vai trocar de academia e sobe em uma balança de bioimpedância. Resolvi trocar o álcool pela natação e veja só,
duas doses de álcool duas vezes por semana. Com alguma flexibilidade para comemorações não rotineiras. Foi aí que eu vi que é possível viver a vida sem álcool e posso garantir, sem sombra de dúvidas: ela é bem pior. Principalmente quando você tá vagando pelo Pão de Açúcar ouvindo o melhor de Carmen MacRae (não por estar de fone, mas porque toca lá mesmo) e resmunga baixinho pensando que mundo é esse onde não se tem uma cerveja sem álcool na prateleira enquanto disputa espaço com estrangeiros olhando tudo pela primeira vez. Ou segunda, nunca se sabe.
O lado bom é que agora fico bêbada com dois drinks e o lado ótimo é que descobri que o café tem um feeling todo especial para saídas noturnas, como se você fosse um amante da nouvelle vague que tivesse que virar a noite escrevendo. O lado péssimo é que meu estômago outro dia pifou e eu me vi sem poder beber, tomar café, fazer exercícios ou comer coisas gordurosas. Ou seja?
Aí que me veio meu novo filme preferido. Se Freud ou Lacan explicam, eu não sei, mas pedi indicações de filmes que me façam acreditar na vida e acabei, por escolha própria, assistindo '' Virgens Suicidas'' da Sofia Coppola. Tenho uma queda radical por suas imagens poéticas, os desencontros de quem anda sozinho na cidade e a infância invejável de quem cresceu nos bastidores do cinema. Vi em algum lugar que quando Sofia Coppola descobriu que iam gravar uma versão sombria de Virgens Suicidas, ela largou seus três Martinis e se pôs a gravar ela mesma.
As Virgens Suicidas de Sofia Coppola
Excelente escolha. O filme mostra a história de três irmãs cheias de potência e juventude, mas que são absolutamente castradas por uma mãe controladora e intercala os momentos mais deliciosos da vida com a impotência diante de uma autoridade devastadora. Claro que diante disso temos beleza manifestada, balões coloridos e músicas que não saem da cabeça como é o caso de Crazy On You que fiquei ouvindo em voz alta por três dias seguidos. O fato é que assistimos feras lindas em uma prisão com pouquíssimo a se viver, se distraindo no telhado ou nas revistas antigas.
Basicamente, um manifesto da potência. Ou se vive ou se vive, ficar no meio do caminho não é uma opção. Foi o que pensei quando pedi o Latte Descafeinado Vegano e pensei que realmente os trinta anos cobram um preço. Mas isso é assunto para quando a incerteza passar. Até lá eu me contorço de cólica e espero o estômago melhorar. Sempre é tempo.
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As melhores cervejas sem álcool são Heineken e Corona
E o Gaia Arte e Café tem um Latte Descafeinado Vegano excelente